Contam que no século XIV, um jovem chamado Hugonell efetuava a sua peregrinação a Santiago de Compostela acompanhado pelos seus pais. Num dos albergues do caminho em que pernoitaram, o jovem mostrou-se indiferente às investidas de uma criada do mesmo, ela por vingança colocou em segredo uma taça de prata na bagagem do rapaz. Na manhã seguinte a mulher chamou os guardas e acusou Hogonell de furto. O rapaz foi julgado e condenado e em seguida enforcado. Porém quando os seus pais foram até o patíbulo para recolher o corpo, ouviram a voz de um anjo anunciando que Santo Domingo havia conservado a sua vida. Os pais do jovem imediatamente procuraram o juiz da cidade e pediram que o rapaz fosse liberado, pois estava vivo e de boa saúde. O juiz estava à mesa e com certa razão, não acreditou na história do casal. A sua incredulidade fê-lo exclamar: - Solto vosso filho quando este galo e esta galinha cantarem novamente – disse o juiz apontando os assados que tinha sobre a mesa.
Nesse mesmo instante o galo e a galinha cobriram-se de penas e puseram a cacarejar e a cantar saindo correndo. O juiz soltou Hugonell. Desde esse dia, na igreja de Santo Domingo de la Calzada, um galo e uma galinha de penas brancas são mantidos vivos junto ao altar, num alambrado no estilo gótico tardio, coberto com uma tela renascentista que recebe o nome de “Gallinero”. Os mesmos são substituídos a cada 20 dias e somente ocupam o galinheiro no período de 25 de abril a 13 de outubro. Ao entrar na igreja, se você ouvir o galo cantar, é um sinal que a sua peregrinação será bem sucedida. Daí o ditado popular: “Santo Domingo de la Calzada, donde cantó la gallina depués de asada”.
Existe uma outra versão fantasiosa, na qual os pais depois que o rapaz foi condenado as ser enforcado, tiveram uma grande dor, no entanto, continuaram a sua peregrinação a Santiago. Depois, no retornar ao seu país, passaram por Santo Domingo de la Calzada e foram ao local onde estava a forca para ver o seu filho e pedir a Deus por sua alma. Quando chegaram ao lado da mesma encontraram o rapaz vivo, questionado, informou aos pais ter um jovem varão segurado os seus pés de forma que nada viesse lhe acontecer.
O milagre relatado se repete em várias cidades ao longo do Caminho de Santiago: em Toulouse, com a denominação de “le pendu dépendu” (milagre atribuído a San Amando ou a Santiago); em Barcelos, no “Caminho Português”, conhecido como “o senhor galo”; em Utrecht “Liber miraculorum” (livro segundo do “Liber Sancti lacobi”). Relata também Berceo nos “Milagres de Nuestra Sennora”; Alfonso X, “el Sabio”; nas “Cántigas de Santa María” e Jacobus de Voragine na “Legenda aurea”.
Com todo esse conhecimento, não podemos atribuir a Santo Domingo de la Calzada este milagre, o qual é muito discutido e emblemático.